Meus delírios, divagações, realidades e esquizofrenias, a quem interessar possa. Se viestes até aqui por bem, ego venia divinus indulge. Se por mal viestes, qui unum manus imprecatio divinus indulge. Danger: "Reperio scrobis et doli". Os comentários relativos aos posts deste diário são de responsabilidade dos visitantes, bem como condutas impróprias de clonagem de identidade em outros sites. Dúvidas, reclamações, declarações de amor? Email-me.

29 janeiro 2008

Salomé, uma mulher

Hoje consegui entender Salomé. Sério.
Fui com a Pri e com a Carol no teatro, depois de algumas cervejas no Bom Fim, com a presença final do G Klamt. Resumo: É difícil, muito difícil, não se ter o que se quer, depois de viver a vida inteira conseguindo, afirmando, superando. Quando mesmo no sofrimento, te dizem: faço o que tu quiser! Pois então é isso!
Quero a cabeça de João Batista! Desgraçado!
Numa bandeja, de prata, não esquecer esse detalhe!

Puxa, negou um mísero beijinho à Salomé, tão casta e desejada, a princesa que renegou a todos. Ela que não queria romanos, nem gregos, nem judeus e muito menos egípcios. Se ele tivesse ao menos a olhado... Mas não, o santinho tinha que se segurar, paralítico total. Podiam ter mudado todo o reino e quem sabe, salvado JC, o messias! Não entendia o covarde que havia despertado um fogo um tanto puro na mocinha, ela, que fugia do padrasto, que viu o pai morrer na mesma cela, que conviveu com a mãe adúltera e seu marido horrível, e que só queria um beijo, um beijo do profeta. Perfídia, só porque amou João, que não a desejou? Linda e inocente, que quando lhe trouxeram a cabeça do mártir, beija-o na boca, ainda apaixonada e louca. Porque, homem de deus, era só um beijo, entende? Ah, o desprezo, tratá-la assim, como uma mulher da vida, de "departamento", não entender nada, nada...
Segundo uma amiga, faz sentido. Ainda hoje.


"Paralisias são uma tendência. É preciso repudiar para poder comentar. Funciona mais ou menos assim: Não dizer. Não mostrar. É feio! É feio! Pessoas que estão com calor, mas não podem tirar o casaco".

Ok, encerrando por hoje. Vou terminar a cortina que comecei à tarde. Sim, porque além de (estar agora) bêbada, sou prendada.

27 janeiro 2008

Um band-aid não chega

E agora a gente fica aqui, juntando os nossos cacos.

24 janeiro 2008

Círculos

E o que era simples e poesia
Tornou-se complexo e pesado demais
Errado demais
Mas prá quem?
O ar que era perfume
Parece agora pouco e viciado
O som que deixava leve
Insiste em não tocar
Trocado por outro ruim
Corta demais o ouvido
Coisas e pessoas
Iguais a picolé e sorvete
Lambidas, lambidas
e chega no fim, acaba, sacia
e se esquece.
Fica só uma sede.
O amor negado
para não se perder tempo
A alegria resumida
em um copo de bebida
Felicidade hipócrita e mentirosa
prá causar inveja nos olhos de outros
Um pai só prá cuidar do seu próprio prazer
Um amigo fiel sendo sacaneado
Uma casa reduto da dúvida e amortecimento
Palavras apenas.
Desfilando de mão
Por posse e orgulho
e o sexo só uma gíria
e desculpa
Prá resumir o egoísmo
Uma excitação
que desnuda por pouco tempo
e depois deixa tudo pior
Esfarrapados
Nós feitos de um tecido barato
Que vai se esfiapando
Até chegar em nada
A vida íntegra
que faz dos outros bons
e me faz pior que tudo
Que julga com uma navalha
trêmula no pescoço branco
Inocente da alegria da vida
Impotente por não ter onde chegar
Jogada assim numa fogueira
das vaidades silenciosas e disfarçadas
Eu criança ardendo no inferno
E não achando nada engraçado
E todas as palavras brilhantes
São folhas mortas nunca impressas
virando pó virtual
Sem nenhum significado maior
Eu que nem queria nada
E queria tudo ao mesmo tempo
No mais passar pela vida
Compreender as pessoas
e as intenções
Me fazer entender
Ilusão levada por uma brisa qualquer
Brisa quente de mormaço
Ruim que afoga num pavor íntimo
Num vazio e indiferença
Que custosamente tinha empurrado
Mas que continuava aqui trancada na goela.

Quer mergulhar de novo?

Fala-se que o mundo está repleto de possibilidades, mas elas se estreitam e se apequenam na experiência de vida da maioria de nós. Há milhares de peixes bons no mar...talvez...contudo os grandes cardumes são de cavalas ou arenques, e quem não é cavala ou arenque está condenado a encontrar muito pouca companhia.

O preferido de Anaïs

O inegável é que no íntimo de sua alma ele era um intruso, um ser anti-social.
Mas um amor ocasional como forma de conforto e alívio era bom também, e ele não se considerava uma pessoa ingrata. Pelo contrário: ele sentia uma gratidão ardente e comovida por gestos de bondade natural e espontânea, indo quase às lágrimas. Atrás de seu rosto pálido, impassível e desiludido, sua alma de criança soluçava de gratidão à Connie e ardia com o desejo de revê-la; assim como sua alma renegada sabia que, na realidade, ele e ela nunca seriam um.
Michaelis era um amante nervoso e inseguro, cujo gozo vinha depressa e terminava logo. Havia muito de infantil e desprotegido em seu corpo nu: como as crianças são nuas! Suas defesas se acumulavam todas na inteligência, na astúcia, no seu instinto vital de astúcia, e quando este intinto estava adormecido ele parecia duplamente nu, criança de pele rosada e fina debatendo-se desesperada. Michaelis despertara nela um tipo selvagem de compaixão e ternura, e um desejo físico também, e aflito.
Ele escrevia a ela no mesmo tom choroso e melancólico, arejado por uma ou outra frase espirituosa, movido por uma afeição assexuada inexplicável. A afeição que ele sentia por ela se curvava a desesperança, e o distanciamento essencial permaneceu intocado. Ele era uma pessoa sem esperanças no coração, e queria ser uma pessoa sem esperanças. Ele maldizia a esperança. "Une immense espérance a traversé la terre", leu e algum livro - e seu comentário foi:
- E afogou desgraçadamente tudo o que valia a pena ter.
Connie e Michaelis tiveram um affair prolongado, trocando cartas e encontrando-se ocasionalmente em Londres. Bastava para propiciar a ela uma auto-afirmação sutil, um tanto irracional e despeitada: uma confiança quase mecânica em suas próprias forças, que vinha acompanhada de grande júbilo. Usava toda a alegria nova que descobrira para estimular Clifford. Naquela época ele escreveu suas melhores histórias, e viveu perto da felicidade ao seu modo estranho e torto.
Connie sempre tivera uma premonição de desesperança no seu romance com Michaelis, e a ligação com ele tinha espasmos ocasionais. Como ela sabia por premonição, o caso estava perto do fim. Michaelis tinha a compulsão de romper todos os elos e viver solto, isolado, absolutamente solitário outra vez. Quando os dias de alegria solta e contagiante se foram, passaram de vez, Connie tornou-se deprimida e irritadiça, e como Clifford sentiu saudades! Talvez se soubesse ele sonharia com a reunião deles dois novamente.
(O Amante de Lady Chatterley - D. H. Lawrence)

Ohlálá sem drogas e uma poltrona fofa prá sentar

Mas eu não quero me encontrar com gente louca, observou Alice.
Você não pode evitar isso, replicou o gato.
Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco. Você é louca.
Como sabe que eu sou louca?, indagou Alice.
Deve ser, disse o gato, ou não estaria aqui.


23 janeiro 2008

Promessas

Limpar o violino e o violão, pelo menos tirar de dentro do case. Comprar o quarto integrante. Compor, compor, tirar as músicas, decupar os intrumentos, ensaiar os diferentes formatos e as novas e escrever. Estudar roteiros, estudar projetos, estudar línguas, estudar os livros inacabados, acabar os livros começados, escrever o que já não conheço mais, espedaçado, pela metade. Gravações em fevereiro. Terminar e lançar as músicas para os respectivos diretores. Site. Publicar os vídeos, publicar tudo. Entre isso, castrar o Blue antes de viajar, supermercado, checkup médico, costurar cortinas, organizar arquivos e fazer backups. Ir embora e encontrar uma imagem minha que me acena de longe, pequenininha, que hoje mal parece um borrão a se mexer.

Despedidas

Essa é a minha semana mundial das despedidas. O fim de algo e o início da constatação de que a solidão humana é necessária. Pelo menos a minha. Deixei um email com frases de Nietsche, e um sentimento de coragem pairando no ar, que talvez façam outros tomarem novas decisões. Ou isso seria um pensamento prepotente demais. Deixei para trás uma vida inteira e o hoje é algo estranhamente estranho dentro das horas que vão passando. Sinto sono e nenhuma vontade de nada. Tenho compromissos comuns para fazer e esses pontos no meu pescoço estão doendo por baixo do curativo e latejando. O braço também dói e arde dos cortes do meu "pequeno acidente". E perdi mais um quilo. Nada muito a dizer nem a acrescentar. Um mês sem tomar antidepressivos e voltei a minha condição naturalmente blasé. Não mais sorrir, nem mais sair, nem aquela felicidade estranha que tomava conta do corpo. Eletricidade, diriam alguns. Mas uma irritação profunda e o medo de fazer algo estúpido me fizeram consciente de que é preciso. Obrigada Dra. M. Pelas receitas sem datas e pelas novas caixas de BUP. Já não sei qual seria a minha verdadeira face. Aquela descrita na carta ou essa da greve com o mundo. Só sinto mesmo pena de não ter recebido e nem visto as fotos que eram prá mim.

21 janeiro 2008

Sonhei de sábado para domingo

Sonhando
com amigos de poucas horas
sem ter lembrado
nem pensado
em como estavam.
Procuro, leio
e descubro o sonho profético
de que ele não anda bem
Uma culpa modesta
de não ter ligado
tampouco escrito
a decepção comigo
como aquilo que não veio
a resposta inexistente
E eu aqui
repetindo os mesmos gestos
com outros de outros lugares
achando mentirosamente
que não somos iguais.


Não lembro bem da noite, mas lembro que gostaria de esquecer o monte de besteira que provavelmente falei. Melhor ainda: preferiria que os demais presentes esquecessem também. Não sei o que foi, mas se tenho essa sensação, então deve ser necessária. Não lembro de ir embora. Muito sorriso gasto à toa. Atordoado de barulho e campo de visão menor. Atenta a tudo de forma distraída. Olhando nos olhos e falando sem ver nada, falando, falando e perdendo a chance de falar de verdade. Outros falavam e falavam e a sensação de que ninguém escutava nada em absoluto, os olhos vagos, vidrados no além. Fazer sem pensar, fazer sem pensar. Beber um pouco mais. Brilhando, flutuando e se divertido, marginal demais, deitando e apagando, dormindo de pernas abertas. Fugindo da claridade e do controle, seguindo um modelo que não foi educada a seguir, com ânsia e sem querer o resultado final de verdade. Perdendo o tempo que não tem, mesmo em seu estado ocioso. Procurando pelo momento de fazer as confissões, ou fazer coisas mais estranhas, o momento exato, aquele que nunca existe, igual ao momento perfeito, aquele que nunca chega, mesmo que desejoso, porque o desejar não se realiza no pensar. Viver um eu que é só dos outros, sem covardia no final, porque apesar de tudo, foi divertido. Mas sábado foi uma droga.

Sensação estranha

Não há Pendrive suficiente para eu resgatar todos os arquivos pessoais que tenho dentro do meu PC do trabalho. Meu não. Não mais. O melhor de todos... De quem será agora? A cada gaveta e arquivo encontro mais coisas e lembranças. Tem o anjinho tocando violino que a tia da limpeza me deu. Levarei comigo. Oito anos. Acho que, mesmo feliz, amanhã vai ter choro.

17 janeiro 2008

Meu russinho

Minha estradinha de ladrilhos dourados tá perdendo o brilho, assim, meio desbotada, hoje...Eu te olho sobre minhas pernas, a cabecinha voltada prá trás, procurando meus olhos e meu carinho, nada me comove mais...Ah, meu Gorki, como vou fazer prá dormir sem teu abraço, sem tua nuca que procura beijinho, lá longe, do outro lado do mundo?...

Moda

Tava pensando aqui...
Se eu morresse, que roupa do meu roupeiro gostaria que me vestissem?

Se encher de nada dá nisso: vazio.

16 janeiro 2008

I am Kloot

Post it


Ort: Hannover
Club: Musikzentrum
http://www.musikzentrum-hannover.de/
Beginn : 23:30 Uhr
Eintritt: frei
All Styles of Independent Music, dark and lighwave, Electronic Beat and Heat. Mit livebands.
Die Aftershowparty die sich nach dem Geschmack der Leute richtet. Die Busse 100/200 fahren stündlich die Nacht durch, Haltestelle Voltastraße und dann 250 Meter gehen. Ausreichend Parkplätze. DJ: Lo-Renz (Can't enjoy the silence Depeche Mode Party , ElectrostadL, Rostock Lt-club, Osnabrück Rosenhof)

15 janeiro 2008

A beleza da imperfeição da informação

Ela. A Incerteza. Bela. Acorrentada. Discriminada. Mal entendida. Tão linda...Corre prá mim que te quero de qualquer jeito, sem julgamento. Vou te sugar, lamber, engolir, vou encher os olhos de lágrimas explodidas, de satisfação, fazendo aliviar, para começar de novo a te desejar, te engolir e te repetir. É uma dádiva que ninguém te queira, ninguém te deseje. Te confundem com o medo, cegos e caolhos. Platônico é semântico à distância e não quero me sentir exausta nunca mais, sempre contigo assim dando tremedeira e dúvida que faz tudo rodar como deve ser e fica bonito de modo poético. Ah, incerteza, aproveita que és indesejada e corre prá mim, me pega na mão, me faz feliz assim.

Na semana ciclotímica que se inicia e com o fim dos dias insanamente animalescos, onde a fêmea sangra dias sem morrer adquirindo somente assim uma pequena anemia inconfundível em alguns casos, já convenço-me, sem nenhuma certeza de que tudo pode mudar, de que os próximos dias serão divertidos. Hoje que é terça pretendo sair sexta e sábado. Amanhã que é quarta pego as minhas passagens na mão. Quinta já nem sei como estarei, que dirá sexta e sábado.


Deixa eu ir, meus dois EXs me aguardam para a edição de um vídeo. Besos, besos.



She, walking like a killer,
She, another night another pillow.
Nowhere places, nowhere faces, no one wants to see,
No education, it's the arse of the nation,
She is bad, she is bored, she is bony, she is ...
She, sh-shaking up the karma,
She, "injecting marijuana",
Nowhere places, nowhere faces, no one wants to see,
No education it's the arse of the nation,
She is bad, she is bored, she is bony, she is .....
she ....
Nowhere faces, nowhere places, no one wants to be,
No situmulation in this privatisation,
She is bad, she is bored, she is bony, she is she.

Stephen Malkmus & Jicks - Real Emotional Trash (2008)

Baixa aqui.

Sleevefaces

14 janeiro 2008

Hoje à noite



Pelo som

Showzinho

Editors, Amsterdã - 12/03 - 120 euros.

Tá, agora, vai um pouco mais devagar...

Dirigi até a praia, sábado à noite. Hitler e Mussolini na frente, inconformadas sem poder beber um vinho maravilhoso, ouvindo Cowboy Junkies na trilha da estrada do mar. Tem a pista devagar, tem a do meio e tem a rápida.
-Thiane, sai da pista rápida, esta é proibida prá ti!
*******
Perdi todos os jogos, independente do parceiro. O batizado da Beladona não fez efeito nenhum, mas foram poucas as gotas.
*******
-Faz caipira?
-Faço. Batizada.
-Faz chimarrão?
-Não sei fazer...Quer dizer, sei fazer. Batizado.
*******
Pré-roteiro: Amsterdã, Praga (pegar o carro), República Tcheca, Alemanha, Áustria. Eles voltam. Talvez eu fique, mais um pouco. E os meus bebês peludinhos? Não sei se consigo, aiai...

11 janeiro 2008

Pausa de exposição, falar menos e uma tpm triste, nada mais

I've been trying
To believe and confide in
Different people
I've found
Some of them got closer than others
Some wouldn't even bother
And then you came around
I didn't really know what to call you
You didn't know me at all
But I was happy to explain
I never really knew how to move you
So I tried to intrude through
The little holes in your vanes
And I saw you
But that's not an invitation
That's all I get!
If this is communication
I disconnect
I've seen you,
I know you
But I don't know how to connect
So I disconnect
You always seem to know where to find me
And I'm still here behind you
In the corner of your eye
Well, this is an invitation
It's not a threat
If you want communication
That's what you get
I'm talking and talking
But I don't know how to connect
And I hold a record for being patient
With your kind of hesitation
I need you, you want me
But I don't know how to connect
So I disconnect

Girls' Night Out

We were looking for a room We were looking for a hotel We were in between We were a few chosen Somewhere to fit in Somthing that's fit in After one day it started itching And we rubbed until it was bleeding And we ran through the moonlight far beyond And we laughed at the moonlight far beyond We were looking for something to blow up We were looking for someone to follow We had one way out We had some hours left We were so close We knew we were chosen We aimed for high speed And for someone who could catch me And we laughed at the moonlight far beyond And we ran through the moonlight far beyond We were looking for a room We were looking for something to blow up We knew we were chosen And we laughed at the moonlight far beyond And we ran through the moonlight far beyond And we laughed at the moonlight far beyond And we ran through the moonlight far beyond.

But it’s the storm that i believe in

Oh it’s healing bang bang bang I can hear your cannons call You’ve been aiming at my land Your hungry hammer’s falling And if you want me, i’m your countryI’m an angel bored like hell And you’re a devil meaning well You steal my lines and you strike me dumb Come raise your flag upon me And if you want me, i’m your countryIf you win me i’m forever, oh yeah Cause you’re the storm that i've been needing And all this peace has been deceivingI like the sweet life and the silence But it’s the storm that i believe in Come and conquer, drop your bombs Cross my borders and kill the calm Bury your things and burn my wings I hear bullets singing And if you want me, i’m your country If you win me i’m forever, oh yeah Cause you’re the storm that i've been needing And all this peace has been deceiving I need some wind to get me sailing So it’s the storm that i believe in You fill my heart, you keep me breathing Cause you’re the storm that i believe in.

O mouse surtou por aqui

-Tu não vem?
-Tô chegando.
-Aqui, em frente aos cinemas.
-Bebe isso ó, esse chopp tá amargo.
-Mas é caro.
-Mas pega mais rápido.
-Sempre tem que fazer uma média, uma pose? Uísque com energético?
-Mas é booommmm...
-É mesmo!
-Quem é esse?
-Meu primo, não via há uns 10 anos. Sempre disse que era biba.
-Confirmado.
-E o passaporte?
-Tu te agiliza, vou fazer entrevista em Caxias.
-Bah, é verdade.
-Mas olha só...
-Não acredito! Nunca dirigiu em Porto Alegre e tem permissão internacional, haha.
-Vou dormir na tua casa.
-Tá.
-E o lance aquele? Acho que tu devia experimentar.

Ah, como é bom sair com gente positiva e curiosa...Troca de bar, quatro lugares. Quanta gente existe em Porto Alegre nas quartas-feiras, nem lembrava mais. Fila demais. Encontro a menina, a mais pequena. Me confessa uma coisa que nem acreditei. Os homens estão todos loucos, que horror. Diz que viu o outro ali perto, como uma advertência amiga.

-Nos falamos melhor lá dentro.
-Tá.

Fila demais, ainda. Não entramos. Encontros antigos, outro bar. Perguntas. Respostas evasivas. Pessoas que não tenho a mínima noção de quem são. Bebi demais, falei demais, fui xingada de radical, mas era estômago vazio. Menos mais dois quilos. E as roupas entrando fácil fácil. Não trabalhei ontem, ar condicionado, quarto e gatinhos. E hoje, formatura. F me escreve: tu tá aqui em SP ainda? Com esse kit loucurinha? Respondo que não, que já voltei, e os encontros nunca se realizam. F encerra: então filma tudo e põe no rapidshare. Ceeeeeerto.

09 janeiro 2008

Resposta

"Cara menina B. De fato, ando muito tipo aquela que no mundo anda perdida, que na vida não tem norte, irmã do sonho e da sorte, a crucificada, a dolorida...Carece de preocupar-te não, querida amiga. É tudo manha, ronronado. É que odeio cair da vassoura sabe? Imagina-te toda empolgada voando, aproveitando a brisa da noite e admirando o luar... Quando de repente uma coruja, um avião da TAM ou uma pane geral te faz cair de uma altura de sei lá quantos metros. Despencar literalmente, entende? (Eu sei que sim...) Feitiço de Amortecimento resolve, mas, e daí? O cabelo fica todo despenteado... Nem ouse dizer a velha frase "Se não se garante, não suba na vassoura". A gente sempre se acha, não negue. Culpa tua também, que fica enchendo a minha bola com mensagens tão queridas e saudosas. Mas no mais, anda tudo bem. Ando exagerada nas emoções e bobeando, inventando verdades, só isso, mas é engraçado mesmo, ser assim, como se quer, sem pensar, e deu. Nem precisa acionar a associação das gostosas, inteligentes e insanas, na função do resgate desta pobre alma ao retorno de sua condição natural. Tudo brincadeira, juro! Hoje mesmo me encontro com a menina C., para uma noite de papo e bebidinhas, aproveitando o ar livre da noite, quando o calor aqui da cidade, que bem conheces, dá uma amenizada. Estou meio sem tempo de responder-te longamente, pois logo logo estou indo embora me arrumar. Quando me visitarás? Guardarei um pouco daquela poção para ti. Beijos biba amada."

Barangolismo não

"Menina A. Escrevo-te pois ando preocupada contigo. Sei que Jung já dizia que encontraríamos mais mundos e caminhos olhando para dentro, mas parece que andas a esquecer-te de como realmente és, pelo menos aos olhos dos outros. Em nada transparece essa instrospecção triste e melancólica que ando lendo, apesar de te conhecer há anos e saber que boa parte deste drama te faz imensamente feliz. Continua arisca, arredia aos modismos? Imagino que sim. Aqui, do outro lado do mundo, chego a visualizar tuas poses de gato nas mesas de bar, abrindo aquela cigarreira. Continuas a encantar-nos com o olhar grande e curioso, quase infantil? Não se engane: és um tipo raro ainda, que às vezes se esconde e não deixa o endereço, nem o telefone novo, fazendo aquela famosa "greve do mundo". Claro que tens teus momentos comuns, a maioria, no dia-a-dia, pegando ônibus (já tiraste a carteira?), comprando cremes que nunca lembra de passar, descendo o lixo (que pelo que soube andas a esquecer bastante), fazendo supermercado (que li que passou a não gostar). Uma dica: pega o mp3 e enfia o fone na orelha a todo volume, enfia um óculos escuro na cara (daqueles enormes que tu gosta) e faz as compras flutuando dentro do Bourbon). Ah, tem também aqueles dias que fica toda empolgada para fazer alguma coisa denoite e depois desiste na hora, "ajorjada", tipicamente geminiana, apesar de negar esta influência luminosa do sol. Mesmo nestes dias, sentada em frente a tv de pijaminha desbotado e sem emitir palavra, exalas um frescor de liberdade. O que acontece, cazzo, é que andavas com o nariz entupido e não sentia, entendeu? Não é brincadeira não a história da terrorista. De vez em quando a gente tem impressão mesmo que esse olhão que vai se fechando devagarinho com olhar de dúvida, tá na espreita. Assustador, mas quem te conhece sabe bem o docinho que tu é, que chora vendo passarinho morto, inclusive galinha depenada no supermercado. Claro que por um segundo a gente enxergou sim aquele olhão do medo. Tem quem só vislumbre esta parte, e nunca mais chega perto. Tolos... Bem que tentamos te fazer mais normal de vez em quando, mas no fim te esquivas das regras. Ainda bem, minha amiga! Quando se pensa que "tá na mão", escapole rapidinho, sorriso malicioso, como se dissesse "jura né?". Chego a ouvir tua voz rindo, que saudade... Se pensamos que está subjugada, é bobagem pura, pois age como quer, talvez aquele momento tenha sido tua escolha. Nada de barangandices e barangolismos, a graciosidade dos teus movimentos é tão natural... Não é aristocrático, porque teu porte não é bem aquele que desejavas, de menina reta sem graça. Tuas curvas te sacaneiam. Por isso mesmo insiste nessa intelectualidade meio masculina, desde o tempo do colégio, causando confusão nas mentes bobas dos meninos e fascínio nas poucas meninas que andavam ao teu lado. "Odeio ser o tipo gostosa", testa franzida, era uma frase engraçada. Aqueles bobos que se deslumbravam levavam cada susto. Eu bem que avisava: não vai passando a mão, é doce, mas arranha... Continua a gostar de vento e dançar sozinha? Aqui no prédio tem um terraço que sempre que subo à noite lembro de ti. Rodando contigo de mãos dadas até cair sem fôlego no chão, rolando de rir. Mais tarde, já maiorzinha, quase vomitando também, ui! Ai, que falta de classe, deve ter pensado, tentando esconder a verdade, mas sei que pensas e já ri, porque nem liga na verdade. Que rótulo o quê! Meninas assim não cabem em nenhuma definição. As demais, aquelas tontas, gostam de fazer mistério. Tu não precisa, é toda sincera, sai falando o que lhe convém, mas É o mistério em si. Por isso estou te escrevendo, para que não te esqueças algo básico do teu ser: tudo é simplesmente simples assim, perfeito, mesmo na dor, na dúvida, no medo. Se não, que graça que teria, mulher?? Coleciona perfumes ainda e de repente sai dando uns vidrinhos pros outros, bem louquinha? E se deslumbrando com coisas pequeninas do momento? Dessa vez é aquela escritora, dessa vez é este tipo de ativismo, dessa vez quer abrir um negócio, dessa vez desisite de tudo e quer ver o mundo. É a legítima durona que se apaixona, sonha acordada e tem insônia por amor. Mas ninguém nem imagina. As injustiças te angustiam, mas não deixas de ir lá ver, sofrer junto, mas tenta resolver, ao invés de desviar o olhar como aquele tipo comum: "ai, não posso com essas coisas, me deixam mal, triste...". Se revolta, briga, manda emails, que nem aquela vez da farra do boi que fiquei sabendo...Tu contra todo o estado de SC, hahaha. Trocaste o email por isso? Ah, não? Imaginei, fugir não é contigo. Quando se sente formiguinha e tão pequena, quase desistindo, chora sozinha escondida, respira fundo e continua. Lembro de arrumarmos as camas uma ao lado da outra, para dormir no chão. Combinamos assim: vamos dormir pensando nessas perguntas que de manhã a gente vai saber como fazer. Quase toda noite, quando ando mal, lembro dessa solução infalível que tu inventou nessa mente meio doente, e que nada resolvia, mas sabe que até que dá um alívio imediato? Apaixonada por pessoas e não por sexos, dizia enchendo a boca garbosa, movendo-se bela e poética entre os dois extremos da humana condição. Insisto que és rara, mas não toma-te como uma freak que imaginas que te imaginam, não é assim, calma! Não és uma aberração, um desvio evolutivo. Pelo contrário: és a mais arquetípica e genuína expressão da feminilidade, a eterna celebração do sagrado feminino. Acha que foi incompreendida? Lambe essa ferida e pronto, tá nova. Isso vai acontecer muitas e muitas vezes ainda, minha querida, pois tu não é para a maioria, nem tente. Só fascina os que não têm medo do feminino. A maioria das pessoas vai sempre torcer o nariz para ti, mas é de nervoso, sabe? Nervoso de se ver frente a frente com um espécime desse tipo, que eu particularmente me espelho. Por isso é que às vezes sobem correndo na primeira árvore. Mas é normal. Comigo também anda acontecendo, e muito. Mas depois eles descem, se aproximam desconfiados, trocam os cheiros...Saudade imensa, vê se me responde ô louca! Beijos!"

Fadinhas Amigas

Ah, mas que boba...Prá tomar o meu Hapsburg graduação 72 com muito thujon, direitinho, usando a colheirinha nova, gelo e os torrões de açucar, é só substituir o Láudano por...Elixir Paregórico!!

Ein weiteres Mitglied der Hapsburg Dynastie ist der Traditional. Doch wer hier einen klassischen Absinthe erwartet wird enttäuscht. Im Blickwinkel steht eher ein Absinth der durch den hohen Alkoholgehalt ganz schnell den Boden unter den Füßen wackelig werden lässt.




Por mim ouvindo o Silent Shout tava bom. Mas se alguém quiser ser mais específico (ou mais "fresco", já diria alguns amigos), pode tentar isso aqui: http://membres.lycos.fr/sanguinem/
É crua a vida.
Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida.
Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços,
Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo,
lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea,
meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua Rubras,
góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua.
Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica:
arroio, lágrima
Olho d'água, bebida.
A Vida é líquida.
(Hilda Hist)

08 janeiro 2008

Don't blame me

Bah, como ando exagerada.
E reapaixonada pelo
Brett Anderson também.

You Only Live Once

Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25. Dia 25.

Tenho duas almas dependentes aqui ainda. Uma em tratamento. Outra quase encaminhada. Só isso me prende a esse lugar. E depois, tantos outros que virão? O que será deles? Alimento? Foto? Remédio? Divulgação? Eu poderia pensar neles e em quem mais eu poderia beneficiar ficando. Me convenço que já estou doente só de ter voltado ontem. Só estou pensando em mim? Não sei bem se a ficha já caiu. São oito anos.


(...)
Nossa Senhora dos Olhares Tristes;
Nossa Senhora dos Luares Mortos;
Dos Cenários Mortos, dos Andares Tortos;
Nossa Senhora das Olheiras Fundas;
Nossa Senhora dos Vícios;
dos Falsos Poetas e dos Vagabundos;
Nossa Senhora dos Cheiros Proibidos;
Nossa Senhora Mãe e Santa das Esquinas Sujas.
Inventa uma vida de felicidade
num lugar distante, logo aqui ao lado;
veste uma roupa bonita, tira uma fotografia,
pensa num futuro velho e de poucas cores.
Nossa Senhora dos Muitos Amores,
rogai por nós.
(Fabrício Fortes)

1 hora no estúdio

Ciclotímica

So I pacify problems with kisses and cuddles
Diligently doubtful through all kinds of trouble
Then I find myself choking on all my contradictions

07 janeiro 2008

Elogio ao Silêncio

Não há como explicar determinado impacto que se têm ao identificar-se com determinada obra, ou determinado artista, sem ao menos ter tido conhecimento daquilo antes. Nem maneira de explicar o porquê, das imagens e palavras te tocarem sem precisar sequer assistir ao vídeo ou ler sobre o artista. Só ficar lá, olhando, cada uma, e tendo uma profusão de pensamentos sem pensar. Poética muda. Ah sim, é de se esperar uma admiração minha por Farnese, por Goeldi, por Schwanke, e outros atormentados. Mas ali, de repente, Sergio Fingermann fazia um sentido simbólico, quase lírico, e me dava um alívio imediato de tantas visões grotescas que sempre habitavam meu espaço de arte. Algumas imagens que capturei, tenho pena de reproduzir aqui, porque tenho certeza que não significarão nem terça parte do sentimento de delicadeza, de leveza e ao mesmo tempo de inteligência superior, que sabe-se lá porquê, eu sentia. Vontades também. Dava-me vontade de sentar em algum lugar entre árvores de forma que sentisse feixes de luz passar pelos galhos, quebrando a escuridão finalmente e trazendo aquela neblina sensual e luminosa, barulho de água ao fundo e vento lambendo as pernas. Só isso, eu e as imagens, mais nada para me trazer um sorriso no rosto.




O ontem nos deformou ou foi por nós deformado? Às vezes parece que o mais belo e o mais nobre nos foram roubados pelo tempo. Percorremos caminhos que nos restaram. Ou então, fazemos aí novos caminhos. De qualquer forma, os caminhos se fazem nestas ruínas. E muitas vezes, nestes caminhos o presente se confunde com o passado. (SF)

Outras Imagens



D saindo de dentro da moça.

Camas de Gilberto Freire.

Pinacoteca e enfeite.

Museu da Língua Portuguesa.

Cachorrinhos...

Tentativa frustrada de registrar os fogos do avião.

De noite, Gabi aqui.

Antes de ir, no calor pouco amigável de Porto Alegre.

Pilhas de idéias pequenas sem nenhuma conexão aparente

Em decorrência da menor inibição latente, pessoas criativas acolhem mais impressões de seu entorno. Mas há também o outro lado dessa moeda. "Quando uma pessoa tem 50 idéias diferentes, o provável é que só duas ou três sejam boas de fato", (Jordan Peterson). "É necessário saber diferenciar essas idéias para não submergir em meio a tantas delas. Daí a importância da inteligência e da memória operacional para evitar que as mentes criativas se afoguem numa torrente de informações".

Será que os pacientes de transtorno bipolar ultrapassam o limiar da loucura por quase sufocar sob a massa enorme de idéias e pensamentos? "Um grau reduzido de inibição latente associado a uma extraordinária flexibilidade de pensamento pode, sob certas circunstâncias, predispor o indivíduo às doenças mentais ou, sob outras circunstâncias, a façanhas criativas" (Peterson e Shelley Carson).

"Kay Redfield Jamison - que também sofre de depressões maníacas - defende uma tese interessante. Ela acredita que o mergulho recorrente na depressão evita que portadores de transtorno bipolar se percam em pensamentos e idéias obscuras. Indivíduos depressivos - atormentados por dúvidas, insegurança e hesitação - teriam um juízo mais realista das coisas. Seu "mecanismo interno de edição", como Jamison o denomina, operaria com a correspondente sensibilidade, ou seja, verificaria a utilidade das idéias produzidas pela mente hiperativa e excluiria as cores berrantes do excesso. Sendo assim, todas as idéias que, na fase maníaca, se revelam grandiosas, seriam submetidas ao crivo de um extremo rigor crítico. Já o pioneiro Guilford via o segredo do pensamento criativo na capacidade de estabelecer um vínculo entre o racional e o irracional, o conhecido e o desconhecido, o convencional e o não convencional. Se, porém, a criatividade brota dessas oposições, espíritos criativos arriscam-se continuamente a ir longe demais com suas idéias e seus pensamentos, ultrapassando as fronteiras do inteligível" (ULRICH KRAFT).

E mais...

Em uma das muitas conversas com o mano sobre nossos trabalhos, ele levantou uma questão que foi colocada por um visitante, no tempo que trabalhou de orientador no MAM. Diante de uma obra, alguns visitantes. O orientador (que neste episódio não era ele) explicando o artista. O expectador não gosta e fala algo como: Se eu preciso conhecer a vida e biografia do artista para entender a obra, então ela em si não diz nada.

Voltei

Arte existe há, praticamente, 40.000 anos. Agricultura há 10.000 anos. Talvez isso explique essa angustia em deixar o trabalho braçal de lado, e agarrar-se as abstrações que realmente devem suprir a necessidade de alguns, talvez mais do que com comida. Minhas justificativas. Ou não. Sábado assisti El Mismo amor, la misma lluvia. Simples, mas cheio de comparações com a nossa própria vida, essa vida que a gente vai levando em função de ir sobrevivendo, cheia de medos, mesmo sabendo-se diferente. Acabamos nos rendendo, com medo de faltar café no armário. E envelhecemos. E nos deprimimos com o que acreditávamos ser e no que na verdade nos tornamos.

Arte, cultura, beleza. Essenciais para o existir. Orienta-nos no viver social. Sua ausência reflete a realidade bruta do nosso país. Cultura aqui é o cinema da violência, sempre o mesmo, desde Carandiru. Divertir o povo - odeio essa palavra - com sua própria tragédia rende dinheiro aos bolsos das mesmas idéias. Meltzer dizia que os primórdios do sentimento de beleza vêm da emoção do bebê ao ver o rosto da mãe que o compreende. Num lugar onde as mães são terrivelmente feias, tristes ou inexistentes, resta aos bebês procurar emoção através da ação, das piores existentes.

Ainda em SP consegui ver a exposição da Yoko Ono no CCBB. E outra no Itaú Cultural. Também comprei mais dois livros, aproveitando que G estava trabalhando numa livraria lá na Paulista e, com o desconto de funcionário, ficou tentador. Sempre tive um preconceito com Yoko. Culpa daquele traste de marido chato. “Ceiling Painting” deve ser a pior de todas as obras expostas, justamente a que o traste levou conhecimento ao mundo. Haviam alguns vídeos e obras ainda do tempo do Fluxus. Alguma coisa com mais política do que com beleza plástica. A idéia que mais gostei foi uma que consiste na apropriação de diversas idéias de diversas pessoas: Water Event. A participação do expectador em cima da idéia exposta é um recurso recorrente em suas obras. E na maioria das vezes, a parceria funciona. Surpreendeu-me.
Obs.: em My Mummy Is Beautiful existe um quadro onde as pessoas deveriam deixar suas expressões escritas, em lápis, sobre sua própria mãe, tudo isso ao lado de duas grandes idéias fotográficas. Ninguém escreveu nada sobre a mãe, pelo que pude ver. Os seus próprios nomes, como pichações baratas, expandiam-se em quase todo o grande quadro, mas bem no meio e sob alguns outros escritos, achei a seguinte pérola: Colorado campeão do Mundo!

Saudade



"Um gato vive um pouco nas poltronas, no cimento ao sol, no telhado sob a lua. Vive também sobre a mesa do escritório, e o salto preciso que ele dá para atingi-la é mais do que impulso para a cultura. É o movimento civilizado de um organismo plenamente ajustado às leis físicas, e que não carece de suplemento de informação. Livros e papéis, beneficiam-se com a sua presteza austera. Mais do que a coruja, o gato é símbolo e guardião da vida intelectual". (Drummond)

03 janeiro 2008

Perfeição Estática

Chove em São Paulo, todos os dias. Na virada do ano tive companhia no vôo. P voltava de São Leopoldo, onde havia passado o Natal. Nada é por acaso. À meia-noite sobrevoávamos o litoral de Santos, e após a contagem regressiva da tripulação, pudemos baixar a altitude de forma que os fogos em toda a costa da praia nos brindaram com um espetáculo interessante. Descanso de alguns dramas e loucuras, e tento evitar ao máximo a introspecção e as memórias, mas durante a noite é mais difícil escapar de nossa própria cabeça. Terminei um livro ontem e devo começar outro hoje, dentre alguns que adquiri aqui. Não sei se começo com o D.H. Lawrence, que desejava há tempos ou com alguns estudos, com um livro catálogo que comprei na Pinacoteca ontem, maravilhoso: "Dor, Forma, Beleza - A representação criadora da experiência traumática". Também um da gaúcha Élida Tessler, onde o conceito "memória" incrustrado nos objetos dispostos se mostra de alguma forma tocante, mexendo com as nossas próprias lembranças. Então (como dizem os paulistas), ontem fui com D "passear". Passamos a tarde na Pinacoteca e depois no Museu da Língua Portuguesa. Quando baixar as fotos, quero tentar relatar algumas das mostras. Difícil está essa coceira cicatrizante das minhas asas. Hoje andamos pelo centro, um verdadeiro pecado a arquitetura toda que ele forma, atirado assim ao lixo, um pecado termos que esconder a máquina fotográfica, um pecado existir uma "Casas Bahia", onde antes havia glamour. E os cachorrinhos? Ah, nem me fale...
Amanhã vamos ver Maluco e Mágico e Simão, o Caolho. No sábado assistiremos Bonecas Diabólicas. São filmes brasileiros, de uma lista grande da mostra "Clássicos e raros do nosso Cinema" (lá no CCBB). Alguns desses filmes são importantes para o trabalho de D., que aliás conheceu pessoas incríveis este ano que passou, infelizmente muitas já esquecidas e falidas, que emocionam-se quando alguém conhece a sua carreira, enchem os olhos de água, oferecem os melhores biscoitos que possuem e quase imploram para que a gente volte, abrindo assim as portas de suas casas cheirando a Lustra Móveis.
Então me vejo assim nestes dias, olhos e ouvidos abertos, tentando desesperadamente alcançar algum tipo de equilíbrio e bom senso. Não sei se é o que preciso ou se preciso disso em função das necessidades dos que eu amo. Fico pensando que se eu fizesse umas sessões de psicanálise talvez me libertaria mais. A minha felicidade é tão fácil de aparecer, mas, e as dos outros, onde encontro? Onde aponto para que a alcancem tanbém? E será real? Estamos todos sentados em gangorras, dificilmente na mesma linha de altura.