Meus delírios, divagações, realidades e esquizofrenias, a quem interessar possa. Se viestes até aqui por bem, ego venia divinus indulge. Se por mal viestes, qui unum manus imprecatio divinus indulge. Danger: "Reperio scrobis et doli". Os comentários relativos aos posts deste diário são de responsabilidade dos visitantes, bem como condutas impróprias de clonagem de identidade em outros sites. Dúvidas, reclamações, declarações de amor? Email-me.

07 janeiro 2008

Voltei

Arte existe há, praticamente, 40.000 anos. Agricultura há 10.000 anos. Talvez isso explique essa angustia em deixar o trabalho braçal de lado, e agarrar-se as abstrações que realmente devem suprir a necessidade de alguns, talvez mais do que com comida. Minhas justificativas. Ou não. Sábado assisti El Mismo amor, la misma lluvia. Simples, mas cheio de comparações com a nossa própria vida, essa vida que a gente vai levando em função de ir sobrevivendo, cheia de medos, mesmo sabendo-se diferente. Acabamos nos rendendo, com medo de faltar café no armário. E envelhecemos. E nos deprimimos com o que acreditávamos ser e no que na verdade nos tornamos.

Arte, cultura, beleza. Essenciais para o existir. Orienta-nos no viver social. Sua ausência reflete a realidade bruta do nosso país. Cultura aqui é o cinema da violência, sempre o mesmo, desde Carandiru. Divertir o povo - odeio essa palavra - com sua própria tragédia rende dinheiro aos bolsos das mesmas idéias. Meltzer dizia que os primórdios do sentimento de beleza vêm da emoção do bebê ao ver o rosto da mãe que o compreende. Num lugar onde as mães são terrivelmente feias, tristes ou inexistentes, resta aos bebês procurar emoção através da ação, das piores existentes.

Ainda em SP consegui ver a exposição da Yoko Ono no CCBB. E outra no Itaú Cultural. Também comprei mais dois livros, aproveitando que G estava trabalhando numa livraria lá na Paulista e, com o desconto de funcionário, ficou tentador. Sempre tive um preconceito com Yoko. Culpa daquele traste de marido chato. “Ceiling Painting” deve ser a pior de todas as obras expostas, justamente a que o traste levou conhecimento ao mundo. Haviam alguns vídeos e obras ainda do tempo do Fluxus. Alguma coisa com mais política do que com beleza plástica. A idéia que mais gostei foi uma que consiste na apropriação de diversas idéias de diversas pessoas: Water Event. A participação do expectador em cima da idéia exposta é um recurso recorrente em suas obras. E na maioria das vezes, a parceria funciona. Surpreendeu-me.
Obs.: em My Mummy Is Beautiful existe um quadro onde as pessoas deveriam deixar suas expressões escritas, em lápis, sobre sua própria mãe, tudo isso ao lado de duas grandes idéias fotográficas. Ninguém escreveu nada sobre a mãe, pelo que pude ver. Os seus próprios nomes, como pichações baratas, expandiam-se em quase todo o grande quadro, mas bem no meio e sob alguns outros escritos, achei a seguinte pérola: Colorado campeão do Mundo!