Menina contrariada pela vida
As meninas, as especiais, com certeza são melhores. Se divertem.
O que faço com tudo isso, pode me responder? Uma caixa imensa de coisas sem sentido que me deste de presente, que não servem nem pra brincar.
As meninas são mais corajosas. Se divertem. Se doam. As especiais, não essas que eles conheceram. As que eu conheci, escolhi. Não temem a voracidade sutil sem compromisso nem o futuro incerto dos sentimentos transformados. Não se perguntam se irão casar. Nem poderiam.
Melhor ainda que elas, só a imaginação e os sonhos. Os sonhos são sempre mais bonitos, mais brancos e limpos. Sem pecado original, os sonhos nascem absolvidos de qualquer culpa ou correção moral. Esse é o presente de compaixão que ganhamos quando nascemos, a capacidade de dormir e sonhar, sem garantias ou expectativas. O que vem a gente sonha, sem escolher, não tem como, nos envolve de um jeito especial, nos domina, e a gente ali deitada, sem poder fugir, gozando apenas, tremendo, esperando lembrar de tudo quando acordar.
Não me resta só a gentileza de ser a pior, resta também o fútil trabalho de colher os frutos que plantei, ali pendurados meio sozinhos. Colho displicentemente e deixo cair uns no chão, sem nenhuma pena, meio desligada, olhos parados, nenhum pensamento. Sem querer, mas também sem cuidar, esmago com os pés. Outros, mais bonitinhos, levo à boca.
Depois de comer, de qualquer forma, vomito.
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