Resgates e ausências
Conversei com P no msn, perguntas, perguntas e beijos.
De repente G me ligou, assim na madrugada.
Aproveitando-se de um motorista colagem, que não devia estar ali, ela toda sacana, veio me dar um abraço. Pedi um minuto, para tirar a camisola e colocar algo decente, antes de chegarem. Não entendi nada, mas não era hora de perguntar. Ríamos e falavamos sozinha, naquele tom baixo que ninguém mais entende. Falou-me da preocupação do retorno daquele, sabe? Aquele... e fez um sinal com o dedo no nariz. Da confissão do outro que lhe deixou tão triste, mas que não tem porquê, ela sabe que não precisa mais disso. Perguntei se pegou a chave de volta do apartamento e me disse que sim. Não sei não...
Conta-me das pessoas que não lembro mais, mesmo fazendo um grande esforço. Não sobrou quase ninguém. Tem aquela internada e que a mãe cuida do filho. Deprimente. Comento que como lá não tem o que fazer, as pessoas se acabam, assim assim. Rimos lembrando das primeiras tatuagens, há muitos e muitos anos:
Vocês têm permissão dos pais?
Depois, ajoelha-se no chão e com os braços cruzados nas minhas pernas perguntou-me porque a gente demorava tanto tempo assim prá se ver de novo, os olhos um pouco sonolentos. Daí emenda outra pergunta:
"Isso é uma guitarra ou um baixo?"
"É um baixo"
"Tu me dá?"
"A...tá, pode levar"
Olhos de criança.
"Leva também isso, é o case. E o pedestal também, prá deixar em pézinho"
"Amanhã tu vem?"
"Shhhhhh" - olhar de segredo pra colagem não saber, não se convidar, ou sei lá, não entendo.
"Eu te ligo"
"Tá"
Depois que foram, fui fechando as janelas, trocando a roupa e jogando tudo para o chão, liberando a cama. Tinha um travesseiro a menos. 12 olhinhos procuram se acomodar também, é hora de dormir. Acomodo-me, lânguida na cama espaçosa, cuidando para não machucar as costas. Ligo meu telefone novo, o único agora, cortado o fixo, diminuindo as despesas. Pergunto se chegaram bem, já deve ser três da manhã. Falha e desliga. Apago o abajur e deito. Uns 10 minutos depois ele toca e é assustador. Havia uma igreja gótica tocando na escuridão do quarto e tateio rápido para atender e aquilo passar. Tá tudo bem, tomam cervejas. Desligo e penso que essa música na chamada do celular ainda vai me matar.
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