Meus delírios, divagações, realidades e esquizofrenias, a quem interessar possa. Se viestes até aqui por bem, ego venia divinus indulge. Se por mal viestes, qui unum manus imprecatio divinus indulge. Danger: "Reperio scrobis et doli". Os comentários relativos aos posts deste diário são de responsabilidade dos visitantes, bem como condutas impróprias de clonagem de identidade em outros sites. Dúvidas, reclamações, declarações de amor? Email-me.

29 dezembro 2007

Resgates e ausências

Caíam as primeiras grossas gotas de chuva que tanto eu aguardava depois do intenso calor dessa Porto Alegre. Mas preocupei-me com a estrada, com C, com A e com R, que haviam partido. Aos poucos a voz dentro de casa vai sumindo, resta as latinhas de cerveja na pia e um cheiro de cigarro na sacada.
Conversei com P no msn, perguntas, perguntas e beijos.
De repente G me ligou, assim na madrugada.
Aproveitando-se de um motorista colagem, que não devia estar ali, ela toda sacana, veio me dar um abraço. Pedi um minuto, para tirar a camisola e colocar algo decente, antes de chegarem. Não entendi nada, mas não era hora de perguntar. Ríamos e falavamos sozinha, naquele tom baixo que ninguém mais entende. Falou-me da preocupação do retorno daquele, sabe? Aquele... e fez um sinal com o dedo no nariz. Da confissão do outro que lhe deixou tão triste, mas que não tem porquê, ela sabe que não precisa mais disso. Perguntei se pegou a chave de volta do apartamento e me disse que sim. Não sei não...
Conta-me das pessoas que não lembro mais, mesmo fazendo um grande esforço. Não sobrou quase ninguém. Tem aquela internada e que a mãe cuida do filho. Deprimente. Comento que como lá não tem o que fazer, as pessoas se acabam, assim assim. Rimos lembrando das primeiras tatuagens, há muitos e muitos anos:
Vocês têm permissão dos pais?

Depois, ajoelha-se no chão e com os braços cruzados nas minhas pernas perguntou-me porque a gente demorava tanto tempo assim prá se ver de novo, os olhos um pouco sonolentos. Daí emenda outra pergunta:
"Isso é uma guitarra ou um baixo?"
"É um baixo"
"Tu me dá?"
"A...tá, pode levar"
Olhos de criança.
"Leva também isso, é o case. E o pedestal também, prá deixar em pézinho"
"Amanhã tu vem?"
"Shhhhhh" - olhar de segredo pra colagem não saber, não se convidar, ou sei lá, não entendo.
"Eu te ligo"
"Tá"
Depois que foram, fui fechando as janelas, trocando a roupa e jogando tudo para o chão, liberando a cama. Tinha um travesseiro a menos. 12 olhinhos procuram se acomodar também, é hora de dormir. Acomodo-me, lânguida na cama espaçosa, cuidando para não machucar as costas. Ligo meu telefone novo, o único agora, cortado o fixo, diminuindo as despesas. Pergunto se chegaram bem, já deve ser três da manhã. Falha e desliga. Apago o abajur e deito. Uns 10 minutos depois ele toca e é assustador. Havia uma igreja gótica tocando na escuridão do quarto e tateio rápido para atender e aquilo passar. Tá tudo bem, tomam cervejas. Desligo e penso que essa música na chamada do celular ainda vai me matar.