Tempo recorrente
Aproveitar o tempo tem sido a coisa mais difícil do mundo. Arranjei livros as pilhas, acaso as coisas demorassem e eu precisasse mesmo esperar. Esperas são realmente valiosas, mas quando chegam ao fim damos valor aquele tempo em que ficamos ali, esperando e nada fizemos. O que se esperava já não importa tanto e até incomoda, essa possibilidade de aproximação. Porque no meu caso, o motivo da minha espera era desejo só meu, tesouro egoísta e secreto, incompreendido e coisa ignorante até por aquilo que é esperado. Foi isso, esse tempo inóquo e vazio que teve uma importância vital na impotência e na anestesia incômoda que talvez venha a explodir aqui dentro, quando algumas flores voltarem a desabrochar. Já não importa a altura, o peso, a quantidade e nem ao menos o conteúdo do que se esperava. Nem importa a pouca importância que o ser esperado têm por qualquer uma de minhas ânsias, que são só minhas e não compartilhadas. Se houver algum sentido nisto tudo, coisa que ainda não descobri, espera-se até o ar.
Nada lhe pertence mais que seus sonhos
Friedrich Nietzsche
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