Meus delírios, divagações, realidades e esquizofrenias, a quem interessar possa. Se viestes até aqui por bem, ego venia divinus indulge. Se por mal viestes, qui unum manus imprecatio divinus indulge. Danger: "Reperio scrobis et doli". Os comentários relativos aos posts deste diário são de responsabilidade dos visitantes, bem como condutas impróprias de clonagem de identidade em outros sites. Dúvidas, reclamações, declarações de amor? Email-me.

03 outubro 2005

Alguém ainda acredita...

...que o que toca no rádio e na tv ou recebe crítica elogiosa é bom?
É deprimente... Da Veja (senha da semana: Aimores):

"A gaúcha Elis Regina (1945-1982) nunca precisou do marketing para ser reconhecida como cantora: teve apenas de unir seu talento como intérprete a um bom repertório. No caso da filha de Elis, o marketing
é tudo
. Nos últimos dois anos, a gravadora Warner empenhou mundos e fundos para impulsionar sua carreira de cantora. A companhia vende a artista como uma espécie de reencarnação da mãe – e ela se prestou a esse papel, emulando o estilo de Elis. A Warner gastou mais de 1 milhão de reais para promover seu disco de estréia, em 2003. Lançado há três semanas, o segundo álbum da cantora saiu da fábrica com uma
tiragem de 250.000 cópias. Mas, como a Elis genérica já não é novidade para ninguém, a gravadora valeu-se de um expediente manjado no meio musical para divulgar o disco: o jabá, aquela lembrancinha que alguns
radialistas e jornalistas recebem para "dar uma força" aos lançamentos.


A companhia presenteou trinta críticos de música de grandes veículos com mini-iPods – tocadores de MP3 cujo preço nas lojas varia entre 600 e 1.000 reais. O objetivo era, obviamente, conquistar a simpatia dos jornalistas. A Warner prefere uma desculpa esfarrapada: o presente seria necessário porque o disco atrasou na fábrica e, com o iPod, os jornalistas que iriam entrevistar a cantora poderiam ouvir suas músicas de forma mais prática. Claro. O "mensalinho" da filha de Elis surtiu o efeito esperado: quase nenhum crítico agraciado ousou fazer comentários negativos sobre o disco (que, aliás, é bem ruim). A maioria escreveu resenhas e perfis chapa-branca – cuja tônica, curiosamente, é que a moça estaria se emancipando da influência materna. A revista IstoÉ publicou que Maria Rita "está cantando esplendidamente". Sua derivada, a IstoÉ Gente, lhe dedicou uma capa. No caso do jornalista da Época, a Warner matou dois coelhos de uma cajadada: ele escreveu uma matéria simpática na revista e outra mais elogiosa ainda na Bravo!, publicada pela Editora Abril, o mesmo grupo de VEJA.

Poucos veículos recusaram o jabá da gravadora – foi o caso da Folha de S.Paulo, que devolveu o iPod, e do jornal O Globo, que ficou de fora da festa por não demonstrar interesse numa entrevista com a cantora. Entre o pessoal que não recusou o iPod, foram raras as notas dissonantes. O crítico do Jornal do Brasil esclareceu em sua resenha que recebeu um iPod mas ficou em cima do muro – disse que a cantora tem "talento até com repertório pouco inspirado". O jornalista de O Estado de S. Paulo também ficou no morde-e-assopra – elogiou, mas ponderou que falta à cantora o "batismo da sarjeta". Como disse um ganhador do brinquedinho, a filha da Elis "tá iPodendo".