Pequena história de gente pequena
Carina queria sair dali, e saiu. Mas era de tão fraca índole - e a bem da verdade que sem aptidão e intelecto para nada - que o caminho que seguiu foi o mesmo. Quem sabe pior. Virou de quinta, mas apesar disto sempre tentou sustentar outra imagem, a de simples estudante universitária de mal gosto no vestir. Não enganava, e pior, foi flagrada por um conhecido num putero de quinta, após um boquete infeccioso, escovando frenéticamente os dentes - para ver a evolução da família.
De tempos em tempos a moça tenta mudar, mas só vai piorando. Não para em sub-emprego nenhum, e como já não é mais a mesma (anda bem mais gorda, relaxada, olheiras que "só com travesseiro na cara", disse-me alguém), fica difícil arranjar algum.
Não há como enganar-se. Nada nela lembra o frescor literário das grandes e cheirosas prostitutas, aquela nostalgia boêmia de amores malditos. É pura podridão e decadência. Ultimamente adquiriu piores manias: é chupin de gente próxima, de pessoas carentes de amizade. É daquele tipo que se gruda, que pede prá tirar foto contigo, que pede para ser amiga do jogador famoso no orkut, que cultiva pseudo-amigos com convites infantilóides do tipo "lindo seu blog, passa lá no meu", te pede roupa emprestada, grana emprestada, namorado emprestado, emprego emprestado, tua vida se puder, já que a dela é miserável. Sugando, torna-se a pior espécie de vampiro, aquela já putrefada, sem aura sensual e enigmática. Ao contrário, fica cada vez mais previsível, e pior de tudo, acha-se genial. Uma hora, mais cedo ou mais tarde, fode também com a vida dos que se aproximaram por amizade ou pena, que lhe conseguiram algum sustento, e mais alguém se afasta.
Não cultivando nenhum projeto concreto de vida, sendo pobre, sendo burra, envelhecendo mais a cada dia, com os dentes cada vez mais cariados e seguindo uma tendenciosa carreira criminal de estelionato e cheques roubados, vislumbra-se claramente seu fim: o Madre Pelletier.
<< Home