O Ontem
Chegou a noite de domingo então despertei de um transe. Quase exigi uma saída, e fomos assistir o filme da Piaf, o "rouxinol da França". Uma dose de vodka antes, Martinelli com a cabeça enevoada do trago do futebol, apenas sorvendo um chopp no Guion.
"Quanto será que vamos voltar a ter uma vida social?"
"A última tentativa foi um fracasso total."
"Mas foi divertido. Eu divirto as pessoas, elas gostam."
Rimos e fumamos.
Amigos que chegam e sentam-se a mesa, antes da hora do filme. Frases engraçadas. Convenceram C. a não viajar comigo, somente nós e agora a combinação é uns dias de primavera na cidade do mundo, em março, mas acompanhadas. Eu disse que tudo bem. Se não puder sair, vou me demitir mesmo. Resgatei uma Anaïs atormentada e supliquei por isso, divertidamente: "HUGO, estou doente, preciso viajar, ir embora..."
A. preocupado que C. pedia mais um copo. Me diverti. Ela repetia "cada vez eu gosto mais disso" e ríamos e pedimos mais um. "Eu também, a cada dia que eu puder fazer isso, tanto melhor"...
O filme foi looongo. Martinelli ao meu lado tomando aspirinas. Muita boemia, privações na infância, a vida no bordel, depois no circo e nas ruas, o vício da morfina e o álcool, amor pela metade, tragédias, depressão. Um encontro rápido com outra sem sombrancelhas, Marlene Dietrich. Piaf numa performance incrível de Marion Cotillard. Mas confesso na minha vã ignorância da biografia da cantora que me perdi em vários lances de tempo, já não sabia mais o que era antes ou depois. O que não muda praticamente nada na narrativa. E todo mundo, sem exceção, parecia tão velho e acabado com pouca idade... Bom, mas não muito emocionante. Vale pela atuação da atriz principal, por sorver mais conhecimento, pelas músicas e pelas letras. Não entendi muito, haviam pessoas secando lágrimas. Ou estava insensível demais a noite.
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