Não deu
Meu instrutor me olha apavorado, não entende o que eu fiz e ralha que da próxima vez eu não tome um trago no dia anterior. Ele ri quando mostro a garrafinha na bolsa. Eu também.
Fico sorrindo sentada ali na praça, pensando longe, pensando que hoje é um dia esquisito, que inteligência é afrodisíaco e que preciso ter mais senso de alegria.
Eu não sei o que esperar de mim, mas deve ser algo tipo um milagre. Enfeito, escuto música velha, tomo umas colheres de água de melissa e penso em dançar antes de sair. Escolho Suede, não sei porque, mas me divirto com Killing Of A Flashboy e os gatos pensam que estou louca e se assustam com o movimento giratório e os pulos. É porque são novos e só conheceram minha tristeza, minha resignação, minha apatia e greve com o mundo. Espantam-se e encho-os de beijos.
Tento recordar exatamente das coisas, mesmo assim, minhas palavras não são profundas o bastante, selvagens o bastante. Penso que hoje é um dia bom para dançar, ficar leve, virar criança, simplificar as coisas. Mas nem sei se tenho o direito de não pensar. Não pensar é a coisa mais difícil que existe.
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