Meus delírios, divagações, realidades e esquizofrenias, a quem interessar possa. Se viestes até aqui por bem, ego venia divinus indulge. Se por mal viestes, qui unum manus imprecatio divinus indulge. Danger: "Reperio scrobis et doli". Os comentários relativos aos posts deste diário são de responsabilidade dos visitantes, bem como condutas impróprias de clonagem de identidade em outros sites. Dúvidas, reclamações, declarações de amor? Email-me.

13 setembro 2006

Criança não é Cachorro

É comum as pessoas que possuem animais de estimação, e os tratam com carinho, serem constrangidas com críticas muitas vezes agressivas. Os donos de bicho, por exemplo, recebem a sugestão de trocar o animal por uma criança pobre.
Quem diz isso pode estar pensando que defende os interesses das crianças carentes, mas na verdade está apenas comparando crianças a cães e gatos. Muitos brasileiros, numa visão simplista, tendem a procurar um único culpado para tudo o que julgam errado.
Se a seleção vai mal, a culpa é do técnico.
Se a economia não vai bem, cai o ministro da Fazenda.
Compreender as verdadeiras razões da pobreza e do abandono das nossas crianças é complicado.
Fica mais fácil culpar os animais, que não podem defender-se.
Como se ao deixar um cão de estimação morrer de uma virose as crianças passassem a comer melhor.
O problema do menor abandonado tem vários culpados.
As causas primárias são estruturais e não podem ser mudadas por meio de boas intenções ou decretos.
Investimentos em saúde e educação são relegados para segundo plano.
A má distribuição de renda gera a opulência num extremo e a miséria noutro.
O planejamento familiar enfrenta resistência religiosa e de setores ditos nacionalistas, além da indiferença do governo.
O Estado negligencia suas obrigações com o bem-estar social, desviando recursos da educação, saúde, moradia e saneamento básico para investir em mineração, siderurgia, telecomunicações, energia e no sistema financeiro.
Os menores de rua muitas vezes são fugitivos da violência doméstica gerada por pais ou padrastos alcoólatras.
Aí está uma longa relação de culpados de duas pernas pela situação das crianças pobres.
Mas há pessoas que entendem que uma criança pobre e um cão têm a mesma necessidade afetiva, revelando sua ignorância, alienação ou má-fé e desprezo pela criança carente a quem dizem defender.
Muitos podem ter condições financeiras para adotar uma criança, mas são incapazes de prover suas necessidades afetivas e segurança emocional.
A maioria dos que adotam um animal visa preencher um vazio em sua vida.
Pessoas idosas, muitas vezes marginalizadas pelas próprias famílias, têm no animalzinho de estimação talvez sua única razão para continuar vivendo.
Há inúmeros registros de gente que superou a depressão graças ao convívio com animais de estimação.
O contato com eles tem sido preconizado como um excelente auxiliar no tratamento de autistas.
Finalmente, não são apenas as dondocas que freqüentam as clínicas veterinárias.
Pessoas humildes passam apertado para levar ao seu bichinho o atendimento médico.
O respeito, o afeto e o cuidado com os animais não eliminam a necessidade de atenção para com o ser humano. Pelo contrário, aprimoram e complementam a capacidade de nos relacionar com os semelhantes.
(Dr. José Ricardo Henz, veterinário)

Por que ajudar os animais?

Você pode estar se perguntando: mas com tanta gente passando fome, não é errado ajudar os animais?
Primeiramente, você faz algo para ajudar alguém?
Sabe de onde vem o que veste e come? Sabe se os produtos que consome usam trabalho infantil?
Ajuda alguma família? Faz algo além de, quem sabe, ligar uma vez por ano pra doar cinco reais para algum projeto que ajude crianças carentes (que, aliás, estão bem longe do aconchego de suas casas)?
Então, talvez não devesse questionar por que ajudar os animais...

Nossa posição pode ser resumida da seguinte maneira: o sofrimento de um animal não tem menos valor que o sofrimento de uma pessoa. Um animal sente e sofre - sofrimento não apenas físico, mas também - e principalmente - psicológico. Animais tem senso de comunidade, amor a seus filhos e a quem cuida deles. Enquanto nós, seres "racionais e inteligentes", usamos nossa inteligência para guerrear e prejudicar o próximo, os animais são leais - só atacam quando tem um motivo, só matam para comer, e só a quantidade necessária.

Você já parou pra pensar que um animal não discrimina? Se você lhe dá carinho, não importa o quão maior que ele você é, o quão diferente: ele te responderá com amor incondicional. O homem, por outro lado, desconfia de uma pessoa meramente por ela ter uma cor diferente que a nossa...

Além disso, o homem é o responsável exclusivo pelo sofrimento dos animais e pelo seu práprio sofrimento. Ajudar estes seres, que não tem voz para se defender, é o mínimo que podemos fazer para nos desculpar pelo mal que lhes causamos. Uma criançaa, por mais triste que seja sua situação, pelo menos tem voz para pedir ajuda. E o mundo está repleto de pessoas que amam crianças mas são capazes de pisotear gatinhos numa praça ou se divertir ao maltratar um animal. Por outro lado, não conhecemos quem ame sinceramente os animais e não ame as pessoas e não faça algo para ajudá-las.

Não preferimos animais a crianças - simplesmente pensamos que bondade gera bondade, compaixão gera compaixão, e por afinidade e uma história de vida que nos levou a isto, resolvemos ajudar os animais (um professor de matemática pode até tentar, mas certamente não será tão bom ao ensinar química ou literatura quanto um professor especializado nisso, certo?).

Somos a favor de qualquer movimento que busque AJUDAR quem quer que seja - pessoa, animal, planta, e os apoiaremos sempre que for solicitado. Inclusive, temos interesse especial numa junção de esforços, por exemplo: projetos educativos para que nossas crianças aprendam a ser mais solidárias umas com as outras, através do contato com os animais, projetos envolvendo animais e o apoio a idosos, zooterapia...

Se cada um fizer sua parte, algo no mundo há de melhorar - e sim, todos, todos nós podemos fazer um pouco por alguma causa, não há desculpa aceitável para não fazê-lo.
(fonte: http://www.patinhascarentes.com.br/porque.htm)