Nova
(Luiz Sérgio Dibe – Jornalista)
Quando eu recebi o disco da banda "Deus e o Diabo" das mãos do mano Rafael, depois de um show em Gravataí, recebi com ele um fardo. Junto com o presente, pelo qual sou muito grato, ganhei do meu amigo a incumbência de escrever-lhe algo sobre esta sua obra. Não é que me seja desagradável realizar tal serviço. Não mesmo. É que me parece às vezes que, sob a força da identificação plena que possuo pelo trabalho da banda, sou incapaz de tecer-lhe um texto dito objetivo como retribuição. Mas acontece que dívida pra mim é coisa séria. Sou do tipo que guarda, zeloso, os débitos por prezar o valor da palavra e celebrar a bênção da confiança fraternal. Então, dou jeito de acertar contas, agora, através destas humildes linhas.
Dá pra dizer que o disco "Também Morrem os Verões" é um saboroso reencontro com os movimentos harmônicos e melódicos do rock oitentista, como eu cheguei a comentar descomprometidamente, noutro show, com o Rafael. Também dá pra falar que o fragmento literário da obra tem poesia boa quando é existencial e é bastante propositivo quando reflete sobre sociedade. Dá pra lembrar ainda que possui um plano gráfico distinto e bem acabado. Eu acho mesmo que poderia tomar alguns preciosos segundos de vossa leitura, narrando a trote os atributos de forma e de conteúdo do disco, outrora proclamado fardo. Mas em nome da razão, que só me falha por indisciplina, e do respeito à importância do espaço editorial, vou dizer mesmo o que deve ser dito e pronto, no derradeiro parágrafo deste escrito de pagamento.
"Também Morrem os Verões" é uma contundente demonstração de empenho. É um desconcertante exemplo de potencial criativo e capacidade gerencial de uma banda de rock que opera independente e livre. Eu disse independente e livre. O disco forma com o show da "Deus e o Diabo" um conjunto sensorial exuberante que aglutina elementos das artes musical, literária, visual e cênica. O ideário "Deus e o Diabo" é assim uma ardente revelação de que o fazer artístico não precisa estar alicerçado nas duvidosas fundações do mundo midiático e da lógica dos negócios. É a expressão da resistência artística em nome da convicção temática e estética.
É assim livre e independente. Livre e independente.
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