Bodas de Papoula
só trajar roupas escuras
(nem em festivo domingo uma cor que lembre o dia).
Na lapela, ao lado esquerdo,
tarja de luto perpétuo;
presa à gravata noturna,
uma papoula sombria.
Ter oculto na algibeira um relógio
que parou num dia de sexta-feira, 13,
na hora em que seu corpo a morte virá buscar.
Com ar de quem vai à forca
de capa e chapéu fúnebres,
com negros sapatos rotos
nas quedas e descaminhos,
seguir todos os enterros,
a alça do caixão na mão.
Mudar a verde esperança pelo roxo das mortalhas,
cultivar flores malditas,
reinventar desesperos.
Gravar na pedra do espelho
a face podre do mangue,
tingir as mãos de vermelho
que é a cor da cor do sangue.
Com olhos sempre inclinados
escavar o duro chão
- os sete palmos de terra -
herança de Deus aos homens
desde o tempo da criação.
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