Meus delírios, divagações, realidades e esquizofrenias, a quem interessar possa. Se viestes até aqui por bem, ego venia divinus indulge. Se por mal viestes, qui unum manus imprecatio divinus indulge. Danger: "Reperio scrobis et doli". Os comentários relativos aos posts deste diário são de responsabilidade dos visitantes, bem como condutas impróprias de clonagem de identidade em outros sites. Dúvidas, reclamações, declarações de amor? Email-me.

13 maio 2005

Sexta-feira 13 ou Procuram-se bandas feitas de cerumanos

E foi simplesmente assim, com uma frase, que deu-se início ao meu processo de inferno astral.
...
A dor do ser belo

Existem pessoas movidas à beleza. Que vivem da beleza, respiram, transpiram, procuram. E sofrem.
As grandes e belas flores, vistas por todo mundo, parecem tão plásticas e longínquas que nossos passos continuam pelo jardim, após uma olhada rápida, sem fruição.
Mas existem as maravilhas pequenas. São tão belas, tão puras em essência e natureza, tão reais e honestas, com cores e texturas nada artificiais, que soltam brilhos diferentes. É tão difícil descrevê-las como é difícil, para os olhos menos treinados, percebê-las.
Os mais sensíveis, e os mais corajosos, conseguem atingir um entendimento melhor. São capazes de se abaixar para enxergar melhor aquelas ricas pétalas, sentir o perfume, quem sabe um leve toque. É algo mágico. Neste momento acontece uma transferência de emoções, de conhecimentos, de amor, e a música conduz tudo, tudo, como um hino de primavera ao cair da noite, ou como uma brisa suave ao som de água, ou como um vento forte que quase te derruba, excitante e acolhedor.
Mas existem passos certeiros, que enxergam estas grandes pequenas ao longe, que se negam a trocar conhecimento, que não querem se aproximar. Eles não desviam o caminho, e eles são muitos, a maioria. São tantos e tão iguais que sempre se pensa que é o mesmo pé que se aproxima. Eles pisam bem em cima das maravilhas.
A pisada da ignorância e do desconhecimento é uma dor terrível para aquele ser iluminado. Dói tanto e machuca tanto que a sua alma quase se esvanece, chega a desfalecer. Não há como segurar as lágrimas. Elas rolam como um rio salgado, e a música de repente se torna uma valsa triste, capaz de fazer chorar até as almas mais distantes, porém semelhantes em cores, texturas e interesses.
A flor assim, caule dobrado, pétalas e rosto caídos ao chão, banhados do soro dos próprios olhos, vai se reconstruindo. Ela bebe daquele vinagre romano e torna-se melhor e mais viva, levanta devagar e amadurece cada vez mais. Enxergando certas coisas, percebe que a beleza da simplicidade e de ser o que se é tem um preço muito alto, mas que ela tem algo que aqueles passos jamais vão ter, que é a capacidade de se reerguer, tendo a certeza de ser tão melhor, tão mais bela em aparência, em cheiro, em sabedoria, em capacidade. A única coisa que vai perdendo é compaixão, e vai aprendendo a ficar cada dia um pouco mais triste, embora bela. E acaba aprendendo um sentimento que a incomoda um pouco: o desprezo.
E ciclo continua e continua e continua.